terça-feira, 5 de junho de 2007

Merda

Nem a loucura do amor,
da maconha, do pó, do tabaco e do álcool,
vale a loucura do ator
quando abre-se em flor,
sob as luzes do palco
bastidores, camarins, coxias e cortinas
São outras tantas pupilas, pálpebras e retinas.
Nem uma doce oração, nem sermão, nem comício.
à direita ou à esquerda
fala mais ao coração
do que a voz de um colega
que sussurra “merda”.
Noite de estréia, tensão,
medo, deslumbramento, feitiço e magia
tudo é uma grande explosão
mas parece que não, quando é o segundo dia
Já se disse, não foi uma vez, nem três, nem quatro
não há gente como a gente, gente de teatro
gente que sabe fazer a beleza vencer
para além de toda a perda.
Gente que pode inverter
para sempre
o sentido da palavra merda.
Merda para você, desejo merda
Merda para você também
Diga merda e tudo bem
Merda toda noite, sempre, amém!...


Caetano Veloso

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