domingo, 11 de novembro de 2007

Você já tinha ido


Estive praticando todo o dia
Juntei poucas palavras num rabisco de jornal
Agora, as palavras que eu pretendia dizer se foram
Eu prometi que eu não iria chorar
Que não iria lhe olhar aos olhos
Disse a mim mesmo que eu tenho de tentar e segurar a onda

A verdade, eu menti
Eu odeio meu próprio interior
E por quê?
Eu joguei o jogo e paguei o preço

Eu nunca olhei para trás
Eu nunca falei, nunca tentei saber o porquê
Estive sempre na minha
Eu nunca duvidei, nunca gritei
Ou saber como
Eu não vou ser solitário
Até este momento, neste momento
Desta vez vou

Mera pretensão talvez
Sou hoje um homem da noite
Vago pela penumbra atrás da sua sombra
Mas não consigo ver seus traços com minha luz ofuscada
É ela que mostra o seu perfil

Não posso esquecer o seu rosto,
O dia, a hora, o local,
Seus olhos tão cheios de mistério
Só um bobo pensa duas vezes
Sou louco. Arrisco
Perdi o meu paraíso
Você viu o bom em mim, mas eu, eu olhei de lado

Eu tenho grande noite em vigília
Não há visão de sono dentro minha mente
As sombras amedrontam-me na minha parede
Convencendo-me que você vai ligar a tempo
Mas nunca liga
Silêncio e um cigarro queimando
O meu carma da recuperação do atraso de mim

A verdade, eu menti
O menino tinha morrido em mim
E por quê?
Eu desisti sem ter tentado
Eu deixei de me conduzir pelo que é certo
Eu não imaginavam que eu queria você até você ter ido
Eu desperdicei muito tempo para isso
Aprendi que o amor continua por aí
Mas você já passou.

Yuri Rabelo

Um comentário:

Unknown disse...

que ótimo.
um texto processual para uma vida processual.
o instante-já de Clarice Lispector.
A roda do automóvel q toca minimamente o chão em alta velocidade. Passou.